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  • terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

    Análise The last of us ( baixaki )

    Havia muito tempo que eu não me envolvia tanto com um jogo como aconteceu com The Last of Us. Tudo na saga de Joel e Ellie funcionou tão bem que eu devo ser uma das únicas pessoas que não via a necessidade de uma expansão, sequência ou prequel. É uma obra que se completa nela mesma e qualquer tentativa de ir além disso poderia estragar aquilo que beirava a perfeição. Só que a Naughty Dog conseguiu provar o quanto eu estava errado.
    Com o DLC Left Behind, o estúdio retorna ao mundo pós-apocalíptico tomado pela infecção de Cordyceps para nos contar uma história tão tocante quanto aquela que vimos no ano passado. Deixando a luta pela sobrevivência em segundo plano, a produtora reforça a importância das relações humanas e o quanto ela pode ser corrompida em um mundo tão podre quanto este. É uma história singela sobre amizade e a perda da inocência; um adeus aos tranquilos dias de paz.
    Mais do que tudo isso, é uma das coisas mais lindas que já passou pelos consoles.

    Flashback

    A narrativa de Left Behind se passa em dois momentos distintos da cronologia. O primeiro deles é focado no presente, mais especificamente após Joel se ferir na luta contra os homens de David, no inverno. Controlando Ellie, o jogador deve correr contra o tempo para encontrar medicamentos para estancar o sangramento de seu companheiro.
    Contudo, essa não é a parte mais interessante deste DLC. O que realmente chama a atenção são os flashbacks de Ellie que nos mostram um pouco mais de sua história. E, se o passado de Joel era aquele soco no estômago, o da garota é um nó na garganta.
    Isso porque a trama é centrada exatamente na relação com Riley, sua melhor amiga. E isso é muito interessante, pois é possível ver o conflito existente entre os dilemas comuns de uma adolescente de 15 anos e os desafios de encarar uma realidade completamente destruída. Como ser normal quando o mundo ao seu redor não é?
    Essa parte de Left Behind se destaca exatamente por isso. Acostumamo-nos a ver uma Ellie durona e já calejada — como seu discurso final na campanha bem evidencia —, mas o DLC nos apresenta quando ela ainda era uma garotinha inocente que não sabia o quanto a vida podia ser cruel.
    E é muito duro ver isso acontecer, uma experiência angustiante do começo ao fim. Você sabe o que vai acontecer e, ainda assim, torce, se anima e se desespera à medida que as coisas acontecem. Assim como na campanha, o envolvimento é inevitável. Você crê que aqueles personagens são reais, pois suas emoções também são.
    É aqui que sentimos o verdadeiro peso da narrativa. Esses flashbacks são inteiramente contemplativos e baseados nos diálogos e na exploração do cenário. Left Behind não precisa de nada mais do que isso para que o jogador se envolva com Ellie e Riley, deixando de ser apenas um espectador e fazendo parte daquele mesmo drama.
    Para isso, a Naughty Dog optou por deixar a ação apenas para as cenas do presente, usando as memórias como uma forma de aprofundar a relação entre as duas jovens. E isso é tão bem feito que é muito mais interessante acompanhar as conversas do que enfrentar zumbis e caçadores. Se ele fosse lançado como um pequeno curta-metragem, ainda seria ótimo.

    Contraponto

    Por outro lado, o presente também tem sua importância. Além de ser a parcela mais agitada do DLC, é ele que faz o contraponto com aquilo que vimos nos flashbacks. Se o passado nos traz uma Ellie ainda inocente, reencontrá-la no contexto “clássico” nos mostra o quanto esse mundo apodrecido mexeu com ela.
    É curioso você ver a mesma menina que se encanta ao andar em um carrossel pela primeira vez jogar infectados sobre caçadores para abrir caminho até seu objetivo. O meio determina o homem, ainda mais em situações tão críticas quanto estas. E Left Behind deixa esta transformação bem clara ao nos jogar nesses dois momentos, evidenciando o contraste.
    Isso tudo casa muito bem com o discurso que ela faz para Joel na cena final de The Last of Us. Sua fala sobre a espera do pior, sobre o quanto a vida lhe tirou e tudo o mais é resumido muito bem neste DLC. Se você compreendeu o que ela quis dizer na época, chegou a hora de sentir  tudo isso.
    Para completar, temos a excelente trilha sonora de Gustavo Santaolalla para coroar essa belíssima história com melodias que combinam muito bem que o espírito geral do extra. Se você não for capaz de se emocionar com tudo isso, é porque você deve estar morto por dentro.

    Estendendo a jogatina

    Para saciar a vontade dos fãs de permanecer neste mundo por mais tempo, a Naughty Dog trouxe pequenos desafios que vão fazê-lo revisitar essa história mais de uma vez. Além dos diferentes níveis de dificuldade, temos uma longa lista de colecionáveis e outros elementos escondidos pelos cenários. Pensou que ia se ver livre das conversas opcionais?
    O detalhe aqui fica por conta dos relatórios que Ellie encontra. Assim como a história de Ishi em The Last of Us, o destino de outro grupo de sobreviventes é apresentado em fragmentos e que, mais uma vez, convida o jogador a mergulhar nessa pequena história. É uma forma interessante de se engajar na busca por esses itens secundários.
    Já nos combates, não há muita diferença em relação ao original. O ponto é que Left Behind se revela um pouco mais difícil por conta da falta de recursos, principalmente nas dificuldades mais elevadas. Isso valoriza muito a utilização de estratégias, já que você nunca vai poder contar por muito tempo com suas armas para sobreviver.
    O único porém encontrado neste aspecto diz respeito à inteligência artificial, que foi levemente alterada para aumentar o desafio e foge um pouco daquilo que vimos anteriormente. É frustrante ser atacado por um Estalador — que são cegos e só poderiam encontrá-lo caso você fizesse algum barulho — quando a personagem está completamente imóvel e em silêncio. Ainda assim, é algo tão pontual e insignificante que em nada afeta a experiência geral do DLC.

    Goodbye, Halcyon Days

    Por fim, é impossível não se emocionar com o excelente trabalho da Naughty Dog em Left Behind. O DLC resume muito bem aquilo que há de melhor em The Last of Us, valorizando as relações humanas e o quanto um contexto crítico é capaz de transformar uma pessoa. Vimos isso acontecer com Joel e agora chegou a hora de olhar as cicatrizes deixadas em Ellie.
    E o mais incrível é que tudo isso é apresentado de maneira muito sutil na narrativa. Trata-se de algo tão bem construído que é impossível não se envolver e se sentir dentro daquele universo. A produtora já havia demonstrado ser capaz de criar uma história incrível e agora ela vai além e traz algo ainda mais sensível, por mais curta que ela seja. Left Behind leva uma média de duas horas para ser finalizado e você acaba querendo muito mais daquilo, por mais sofrível que seja aquela realidade.
    Continuo achando que não há a necessidade de um The Last of Us 2, mas a chegada deste DLC me provou que não há com o que se preocupar. A Naughty Dog conseguiu me convencer de que há maneiras de expandir este universo, apresentar novas camadas de seus personagens e, ainda assim, nos surpreender como da primeira vez.

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